terça-feira, 5 de junho de 2012

Epílogo



   Bem, acordei mais cedo hoje o dia estava cinza, olhei pela janela e vi, vi as árvores dançando com o vento. A dança que o ser humano não conhece, e decidi então levantar. Afinal se eu continuasse a dormir, tenho a certeza que você iria achar que eu estivesse morto. Também decidi que não vou tomar os remédios, quer que eu diga bem a verdade? Odeio aquelas cápsulas inúteis que só manipulam a dor, adiando mais ainda o dia de minha morte. Com o tempo fui esquecido, fui deixado, como os outros velhos estou desgastado, não não, não quero que pense que sou um pobre idoso, que só se queixa ao final da vida. Você veio me ver, só estou animado então deixe-me desabafar.Mas, o que deu pra visitar-me?
... O vento começou a ser cada vez mais forte nos próximos segundos...
- Ei vamos entrar.
   E o garoto entra com o avó, calado, só a escutar algumas sábias palavras. Ele também não sabia porque estava ali. Talvez a distância, talvez a saudade ou talvez por perceber que o avó estava triste, isso seria um mal sinal. Sabe, todos nós temos um fim, o dia que vamos dizer chega, cansei da vida, não quero mais viver e deixe-me em paz. E quem um dia conseguir contrariar isso terá o meu respeito. Acredito eu que não exista este ser humano com o dom de mudar o natural e se
existir, já não estarei mais aqui. Sou a cinza do fogo que fiz ontem, já não sou mais nada.
- A vida é difícil, realmente fica insuportável neste estágio.
   Relembrando as coisas que fiz no passado, lembro-me que fui vamos dizer um louco. O louco que nunca foi, nunca será e jamais se curvará a ser normal em vida.
   Ser jovem e fazer coisas bizarras, é ser louco. Sinto falta daqueles tempos. Sinto falta das pessoas com quem convivi boa parte de minha vida. Por incrível que pareça, lembrei-me de um porão. E lá  guardei algumas coisas do passado, algumas fotos, cartas, coisas que você faz e com o passar
do tempo vai se perdendo no espaço da mente, no delírio do esquecimento. Digo, o tempo muda, as coisas mudam, você muda. O que resta é um fragmento, isso, um fragmento de recordações que
se mistura a ilusão, e você só tem isso, não sabendo se foi aquilo mesmo que realmente aconteceu mas você se lembra mesmo dilacerado em teu cérebro.
    E no compaço da vida o tempo vai passando, mais uma flor vai desbrochando, e as almas obscuras de minhas alucinações vão me apossando.
- Estou gostando do ritmo da conversa. Até me lembro de algo agora, acho que foi a falta de convivência, aliás, estive preso, estive preso a falta de sua avó. Ela faleceu e a guardei em meu jardim de dor. Está falta, me matou dia após dia.
- Vamos descer até o porão, acho que fica por aqui.
E então ele abriu a porta, e avistou uma caixa, cheia de poeira e velha.
- Aqui está. Boa parte de meu passado diante de mim.
Olhando estas fotos, vejo a pessoa que fui, lembro cada momento refletido em um pedaço de papel já amarelado. Lembro das pessoas que nunca vou esquecer, acredito que já esqueceram, eu não queria.    
   Lembro como se fosse hoje cada passo realizado, trago em meus pensamentos intensos amores, grandes paixões a aflição de conhecer o desconhecido.
    A partir da pessoa que fomos, escute bem, o nosso futuro será igual. A linha nunca muda, você pensa que muda. A vida é pequena sufíciente para fazer um estrago
que deixará marcas para sempre, depende de você. Hoje perto de meu fim vejo minha vida passar diante de meus olhos. Afinal eles dizem que a morte é isso, eu acredito que a morte seja um momento fútil, porque você morre e nada mais. Algumas pessoas lembrarm de você, mas o dia final é o funeral. E não será mais lembrado depois disso. Não mais.
Eles saem em direção a casa, o menino meio quieto não faz questão de falar, mal sabe ele que o avó morrerá minutos depois. E carregará contigo a lembrança, a dor da lembrança de ver seu avó deitar e fechar os olhos, e nunca mais voltar.

Alan Lacerda

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