sábado, 23 de fevereiro de 2013

Coisas que eu disse ontem



I



A liberdade aflora

O caminho não espera

Estrada virgem

Diante dos meus pés cansados

Eu poderia esperar pelos falcões

Eu poderia estar muito atrasado

Alguma forma de liberdade

Espera pelo meu veludo pardo





Futuro poderia ser

Uma esperança de cura

Mas disso nós nunca saberíamos

Nunca saberíamos



II



Encha o meu cálice

Até que ele transborde

Faça-me sorrir

Com o meu chorar

A chuva fina, cai lá fora

Eu lembro das folhas douradas

Das cinzas no incensório

Nada mais a inesperar





A chuva fina,cai dentro de mim

E eu nunca venci um jogo sequer

Talvez não acredite nas palavras “para sempre”

Dançando sobre os ossos de outros

Eu apago palavras que eu nunca disse

Eu caio livre sob um céu ardente


Hamilton Guilherme

terça-feira, 19 de fevereiro de 2013

Dias vazios



Eu estou perdido
Entre pensamentos flamejantes
Atrás do carvalho, que nunca fala
Eu estou por ai
Em cada praça de esquina
Olhando para tempo
Apenas refletindo
O um minuto atrás.

Eu estou perdido
Nos labirintos da morte
Em vagões de cadáveres
Que circulam por mim.

São os dias vazios...

E nada é melhor como o som do silêncio
Para acorrentar meus pés sangrando.

Ao decorrer das horas
O vento vai mudando o seu passar
Como a pessoa que me dizia antes
Que tudo iria ser eterno.

Um eu te  amo no passado
foi esquecido entre as bocas
Hoje, um tchau, e nada mais.
As coisas mudaram por aqui.

Por favor, eu estou perdido.

Alan Lacerda

domingo, 17 de fevereiro de 2013

Remo








O escuro vem,pequeno Remo

Todos que estavam dentro,saíram

Traga o vermute

Minha visão turva

Azul  e escarlate

Tuas trevas são minhas trevas

O crepúsculo brevemente tarda

A noite nos esquecerá em breve

Nada se iguala a nada



O dia vem

Somos apenas restos de ninguém

Flores que secam

Entre as vespas de ferro

Não há nada,exceto o ontem

Eu desaparecerei nos corredores

Quando ninguém estiver olhando





O escuro vem,pequeno Remo

Voe antes que o dia se vá

Eu seguirei a trilha sem fim

Perdoe-me pelo amanhã

Nada mais tenho eu

Alem do meu reflexo

Em teus olhos distantes

Eu escureço esta alma pálida de mim




Hamilton Guilherme

quarta-feira, 13 de fevereiro de 2013

Jardim de Pedra









Eu corri através da chuva
Que embranquece os montes
Corri pelas frutas
Que caem das arvores
Corri pelas prisões
De ruas molhadas
Corri para longe

Eu corri pelos cemitérios
E pelos ossos de mastodontes
E o chão se abriu sob os meus pés
A hera envolveu o meu corpo
Acariciando-me

Eu olhei para a noite
E pensei na morte
Eu abracei a dama de horas
E ela me levou embora
Nas costas do zéfiro norte

E eu tentei fugir
Dos fantasmas que me perturbam
Dos sonhos que me magoam
Do sono que não vem
Dos olhos que dormem acordados

E eu vi ele se decompor
E os cães velhos que o farejavam
Eu ouvi os seus dentes trincarem
Seus ossos sussurrarem
Seu degenerar

No padecer da noite negra
Eu fujo,em silencio
Da prisão que me resguarda
Dos frios corredores de pedra
Dos fantasmas que me assombram
Embora já tenham partido
Dos vendavais que me sopram
Que me sopram pra longe

Como frascos sem perfume
E almas sem curtume
Assim eu entardeço
E anoiteço


Hamilton Guilherme

terça-feira, 12 de fevereiro de 2013

Invadir o seu cérebro




Andando sobre os vermes
Aonde as almas clamam por piedade
Sua respiração se torna dolorosa
Assim como será sua morte agora.
Você está com medo e cansado.
Você entrou no jogo
Como um rato de laboratório
Que fita falsamente te olhando.
Os olhos negros, com sede de sangue indo a sua direção
São criaturas que você mesmo chamou no ritual.
Você corre
E a floresta negra em seu sussurro torturante
Tenta lhe abraçar e dizer algo
A Neblina por um caminho de cadáveres,
Uma longa agonia te espera lá na frente
E quando emergi o som das profundezas do inferno
Uma faca estraçalha  o seu crânio no meio

O som do silêncio é cortado
No céu a uma grande Lua Cheia
Que a cada segundo que se passa
Vai se escondendo entre nuvens negras

Você é a próxima vítima

O vento sopra para o sul,
Gelado e arrepiante
Isso vai invadir o seu cérebro
Já que um de seus amigos foi mais cedo.
Você está sozinho então.
E aqui  temos o seu medo, enforcando-te lentamente
E assim sua alma será esquecida nos confins do inferno
Como vômitos que se secam nesse chão árido e quente.

Você corre das sombras, e se esconde da morte.
Mas elas te seguem furiosamente.
Vultos em sua volta, como diabos a te assombrar.
Risos medonhos, ele disse que está mais perto.
Tudo que ele sempre quis, foi sua alma.
Você será a próxima vítima

Este mundo, já fora menos podre.
E a partir daquele instante, você não queria mais estar sóbrio.
Uma cruel realidade lhe aguarda.
Você se meteu com  a morte na hora errada.
Vai te fazer em pedaços
Vai sugar o seu sangue
Vai fritar o seu cérebro
Vai torturar sua alma
E no sofrimento, te aprisionar no abismo do Inferno.

Alan Lacerda




sábado, 9 de fevereiro de 2013

Zero Óbito




 


Foram-se muitas noites,em claro

Vindo de mim,nem mais um cigarro

Esperando o dia que nunca vem

Tanto a dizer

E nada para dizer

Ainda aguardo algum silêncio como resposta



E está tão tarde,pequeno arlequim

O escuro logo vem,

O silencio é um anequim

Enquanto se vai,pelas fendas

o incenso alecrim



um leve minuto

por entre as minhas mãos dormentes

os meus pés continuam correndo

sem saírem do lugar

os cães velhos encontram um lar

os estranhos morrem a cada luar

e o vermelho carmim

pouco a pouco

torna-se cinza


Hamilton Guilherme

domingo, 3 de fevereiro de 2013

Monólogo





Eu morava em um roulote

Para não viver jamais

Para morrer num outro comprimido

Eu tinha as mãos lentas

Para ver as pessoas partindo

Entre despedidas e obrigados

Entre pães e circos



Eu me perdi por aqui

Porque esqueci o caminho de casa

eu tenho o perfume de dias passados

e a vaga lembrança da ultima sonata



Eu quis ser

E o fogo que abraça a noite

E a fumaça do teu cigarro

Eu quis ter o tempo de tempo nenhum

Eu quis ser

O escuro de um dia nublado

Eu quis ter asas ao invés de braços



Somos lágrimas de um oceano

Todos os amanhãs começam sem ter hora

E eu não quero ouvir o caos das televisões

O quão breve estamos agora



E como a queda livre antes da morte

Não poderíamos gastar os dias,em vão

E eu fugi para longe,para estar seguro

Para queimar velhos devaneios

Como velho carvão



E não há anestesia

Para a nossa rota fria

Cavalos feitos

Somente para cavalgar

E não há porta de saída

para os espelhos mais altos

somos abutres velhos

cansados de tanto voar



folhas de outono no ar

fluem para onde o vento levar

um passado novo

de um futuro velho

o dia está apagado lá fora

e está tão nublado

o meu anoitecer interno



Eu costumava ser um astronauta

Vendo estrelas caírem

Eu ouvia os corredores rirem

e os principados velozes

de peles bordadas

correndo para a primavera em que vivem


Hamilton Guilherme

sexta-feira, 1 de fevereiro de 2013

Teodora











Teodora virá amanhã

Das prisões de Pangeia

E os nossos medos interurbanos

Eram uma curta odisséia



Ela virá das ruas escuras

E do terror dos telefones mudos

Ela virá amanhã

Esqueça as suas vãs bagagens



E eu vi os seus olhos

E o seu pardal de alfinetes

Ela abraçou as folhas no ar

Inconseqüente,ela se foi



E ela procura pelo ontem

Desde a borda do infinito

E ela procura alguém

Desde a via de granito



Teodora virá amanhã

Ela nos esqueceu,naquela colina

Há algo a dissipar

Algo que nunca fomos

E com as plumas no ar,ela foi

Eis aqui a sua sina






Hamilton Guilherme