domingo, 30 de setembro de 2012

Ele se foi muito tarde


Pouca luz entrou na janela pela manhã
Os poucos raios já desconfiavam do meu desassossego
Ou foi eu que tapei os meus olhos
Por vários séculos, em várias dimensões?

Isso faz minha mente ir para longe
Para cima se projetar
Atrás de um conhecimento escolhido
Hoje ele se foi muito tarde
Mas do que o esperado
E a cadeira balançou sem ninguém.
Ele se foi, perdeu o horário

Como eu poderia pegar aquela fênix?
E trazer novamente o meu desejo, o meu renascer
Desejo? Renascer? Coisa absurda.
Sou apenas um passageiro mental em busca do amanhecer
Em busca de um desconhecido, que estende as mãos sobre meu corpo congelado
Cuidado, não vá se perder no espaço. O consciente se perdeu
E foi mandado para um lugar de pedras

Pessoas sorrindo em minha volta
Como se naquele lugar eu fosse uma criança
Que ainda estava aprendendo a falar as primeiras bobagens
Contudo. Não sei dizer exatamente como aconteceu.
Só fui avisado que ele se foi durante o anoitecer, se foi muito tarde.

Eu que proclamei guerra aos Arcanjos
Hoje nem demônio muito menos anjo
Apenas um equilíbrio elementar
Buscando sobreviver fora de mim
Voltei, quase sem saber se estava ali mesmo
Tinha que ter a certeza que tudo era real
E não deixei de perceber
Que o sol se foi muito tarde.

Alan Lacerda

Bramaputra








Novo dia, horizonte alto
Penas e diamantes
Tatuados no ombro
A caminho do Bramaputra

Fadado a estar frustrado
Fadado a estar cansado
Licantropo de classe operária
A caminho do Bramaputra

Vamos indo para o litoral
Para um pequeno vilarejo
Onde a fantasia torna natural
O meu irreal desejo

Pouca sorte
Moedas quebradas
Quase morte
Vida inválida

Eu e o meu irmão mais velho
Correndo pelas ruas da lua
Eu e o meu irmão mais novo
A caminho do Bramaputra

Hamilton Guilherme

quarta-feira, 26 de setembro de 2012

26 de Setembro












A primavera veio até mim
E tocou o meu rosto
Renascendo
Como botões de ouro
Estava envelhecido
Mais uma vez

Por detrás de portas e trancas
Eu poderia voar tão breve
Ao timbrar do pássaro que canta
Eu renasceria em uma nova pele

Eu posso acreditar
Que os soldados
Ainda voltarão da guerra
Que os exilados
Ainda mantêm contato
Que é o último dia da terra

Primavera em setembro
E eu trago aniversários
E velhos abraços
Que deixei pra trás
E quantos rabiscos
Que tenho em mim
Quantos rascunhos
Eu tenho aqui
Pelas terras fantasmas
Deixadas pra trás


Hamilton Guilherme

Príncipe dos Demonios









As nuvens negras se abrem no chão
Presumo que alguma aconteceu no submundo
Os corvos dançam em forma de circulo
O que os servos chamam de saudação ao Rei Supremo

Ajoelhem-se em saudação a Belzebu
Que veio ressuscitar
o seu reino
perdida na ultima guerra
contra os cordeiros

Sim, o guerreiro branco perdeu sua alma
Chorar nunca foi a solução
O rio corre e não vai parar
Renasce novamente a peste negra

Querendo ou não ele vai voltar

Caminhando na escuridão
Eu consigo ver os teus olhos obscuros
Que prende minha sombra no portal infernal
Eu sabia que você iria voltar

Saudação a Belzebu
Seja bem vindo Belzebu
Suba para a terra e reine para nossa glória
Saudação a Belzebu
Bem vindo Belzebu
A sombra que te deu cobertura até hoje
Vai te matar... Agora

Alan Lacerda

domingo, 23 de setembro de 2012

Metanóia





Costumava ser fluorescente
E escrever o meu nome na tinta vermelha
Costumava ser absorvente
Como um quarto quadrado de quatros
A se inundar na prata derretida
Costumava ser incandescente

Luas de concreto
Dedos ensanguentados
Morrer jovem e envelhecer rápido
É o que estamos prestes a fazer
Degenerado pela tintura
E pela caixa de risadas
Dissipar em raios e eletrodos
É o que estamos prestes a fazer

Cinco semanas para o verão
E sobre mim nenhum raio ardente
Eu quis ser os dias de dezembro
Eu quis ser a luz púrpura no poente

Após a guerra e além
Atando perdões e améns
Eu reencontro aqueles
Que nunca pensei reencontrar outra vez
Eu lembro das suas vozes
Como um cubo inquebrável
Falando com insensatez

As estrelas de amanhã nos pertencem
Rastejando até a Via-Láctea
Tropeçando nos próprios pés
Vendo o fogo e sendo a sombra
Sendo a hera crescendo ávida

Hamilton Guilherme

sexta-feira, 21 de setembro de 2012

Petrificado





Ninguém veio ao meu enterro
vi alguém chorando e isto doeu
você esteve ensanguentado
durante todos esses anos
afinal,quem sou eu?

Então venha,
e se afogue comigo
este é o dia em que todos nos morremos
como fumaça no ar
desdobrando tão sutilmente
como se fosse ontem
meus pulmões cheios de água
o dia em que todos nos morremos

eu tenho aquela tristeza
aquela tristeza de inverno
eu lembro da sua voz
mas não do que você disse


Talvez eu pudesse ser um astronauta
Assistindo os planetas colidirem
eu esqueci como respirar
meus olhos se abrem
enquanto eles se fecham
caindo de cabeça,da mais pesada nuvem
a gravidade se torna densa demais para caminhar

quantas ilusões eu colecionei hoje
eu fechei acordos com os trapaceiros
e os bobos de abril
eu fecho os meus punhos
eu torno a ver por milhas
o que ninguém nunca viu

Hamilton Guilherme

quarta-feira, 19 de setembro de 2012

Síncope da Perdição





Pulando de um mundo para o outro
eu sigo meu caminho entre as pedras
caídas entre o amor inexistente
corações sempre batem fora de sincronia
tudo se vai em boa hora
quando ninguém está presente

e agora o que vou fazer preso
entre muros sólidos e prepotentes
jogando o velho jogo da existência
na monotonia de olhos viciados
a realidade está em chamas lá fora
e somos vitimas da conseqüência

e ai sou eu que te pergunto
como faço para sair do meio dos muros?
Eles são mais altos do que se pode alcançar
E diante destes muros,me sinto imaturo

preso ao redor dos espinhos caídos
ferindo a minha alma,despindo meu meu ódio
vivo a dez pés de profundidade
e estou prematuramente vencido
intenso abraçando a minha infelicidade
corroendo minha humildade

os pássaros cantam mais não posso vê-los
as grades a frente tornam tudo isso um pesadelo
uma muda nasce em torno do caos
será que lá brotara a felicidade?
lembranças tons de cinza vem a minha mente
quando penso sobre tudo que passou
mergulho dentro do ontem,nada mais importa
a felicidade é uma ilusão nova,velha
 e se esconde em disfarces

caio em buraco que aparenta ser infinito
durante o trajeto passa um filme de minhas lembranças
caio em profundo desespero
inesperado estado de alucinação
animais se tornam falantes
conversam e se emocionam
arvores se tornaram mais doces
o amargo se torna mais doce
eu céus de algodão

Hamilton Guilherme e Luis Guilherme

terça-feira, 18 de setembro de 2012

Inverno Prematuro






Eu tentei esperar pelo sol
Mas ele demora tanto
Degradado pela última industria
Eu vou me desconcertando

A explosão vem vindo
Mas as sombras estão nubladas, a sós
Como podem anjos e demônios coexistirem
Se ambos existem dentro de nós

Eu absorvi o veneno mais veloz daquela sangria
Meu punhos cicatrizaram
Mas não era suficiente
Todo mundo é feio hoje
Todo mundo está vivendo em qualquer dia
O embrião permanece a salvo
Sob a cidade destruída

E quando partir o próximo navio para o futuro
Eu quero ir junto,eu quero estar junto
Tem sido um longo tempo de vozes cegas
Não importa se eu nasci imaturo
Eu quero ir junto,no próximo navio para o futuro

Não me deixe ser
Um inverno prematuro
Ou eu morrerei no deserto

Hamilton Guilherme

sábado, 15 de setembro de 2012

Quartos Fechados



O ódio se tranca dentro de mim
Para perturbar os males infinitos
Eu busco a severa alma perdida
E me perco nos buracos infernais

Os quartos estão fechados
As mentes estão paradas
Os quartos estão fechados
Os delírios caíram das escadas

Quartos fechados, quartos fechados
O mundo se tornou um meio isolado

Nada de caminhar olhando para os céus
perca de tempo, digo a mim mesmo
dois pés para saltar a baixo
Fico louco preso naqueles quartos fechados

Mas falta pouco tempo
A espada já está em minhas mãos
O sol brilha outra vez
É hora de carregar você para queimar


E os quartos ainda estão fechados
As mentes continuam  paradas
Os quartos estão fechados
Os delírios caíram das escadas

Alan Lacerda

sexta-feira, 14 de setembro de 2012

Obsoleto








Eu sou orvalho
Sobre uma folha seca
Eu sou um morador da lua
A caminhar pelas ruas da sombra

Eu sou neblina
Eu sou o leve entorpecer
Em cada trago que você toma

Eu sou um neófito
A envelhecer em cada asilo
Que você afronta

Você irá para Avalon hoje?
Você entrará em meus pesadelos?
Você cairá de exaustão?
Eu ainda procuro por irmãos biológicos
Eles podem suprir cada célula oca
Para a avidez da minha expansão

O Solstício trouxe a chuva fina
E está quente na sombra
Mandrágoras exalam a sua inércia
Minha aura, pura lavanda

Você irá para Atlântida?
Você entrará em erupção?
Você será enganado pelo destino?
Dez mil léguas
Nove semanas para o verão
Eu afino as cordas cardíacas
Eu fui ao centro da terra
Eu vivi após a devastação

Hamilton Guilherme

segunda-feira, 10 de setembro de 2012

Harmonia








Como uma célula tronco
Suavemente eu me instalo
Tome um cálice de oxigênio
Não teremos saudades de mais nada
Em busca de ingenuidade
Preenchendo vazios
de um circulo perfeito

Eu alcançarei o Nirvana
E tornarei real a minha utopia
Serei mais leve que o céu
E não me arrependerei nenhum dia

É tão fácil ser alguém
E quebrar um estado de espírito
É tão difícil ser ninguém
E se culpar por tudo isto

Eu cansei de lamentar
Nós cansamos de protestar
E eu não quero prender os pés no chão
Somos filhos da mesma tribo
Viemos do mesmo veludo
Eu não quero mutilar a terceira mão

Há uma bela paisagem
E um bonito leste
Pomos dourados e flocos ao vento
flores molhadas vindas do oeste


Hamilton Guilherme

sábado, 8 de setembro de 2012

Senhor Sombra


Sentado olhando os corvos viajando no céu
Vejo suas asas  passarem como raios
E cair em direção da minha cabeça
Devorando minha pequena ilusão

Mas não será fácil como parece
Não estou disposto
A entregar minha alma ao corvo  negro
Tudo que devo fazer é correr
Sem sair do lugar, e fingir que nada
está acontecendo.

Ao entrar naquela casa, disse o Diabo
Não veja a menina.
Ao entrar na segunda casa
Não ande em círculos, finja que nada está acontecendo
e acorde.

Eu não dei ouvidos. O céu já estava preto
E o apocalipse veio a tona.
Fiquei preso a uma porta
O corvo já tinha avisado
Não tem para onde fugir
Você é fraco e imundo.
Foi então que minha sombra em meu ouvido sussurrou
Você está morto.

Se até o mais perverso anjo chorou
Foi humilhado diante de seu pai
Devo achar a saída desse sufoco
Devo andar e pensar
Devo me aliar com Satanás.

Alan Lacerda.