segunda-feira, 24 de fevereiro de 2014

Aura



De manhã
Devagar,
Meu ser
Se desfaz,
Em farpas
Migalhas
Navalhas;
Mergulho
De cara
Em coma
Em carma;
Minh’alma
Cai em pedaços.

Pedaços de luz
Restos de escuro;
De ódio passado,
De amor futuro,
De roupa branca,
De mundo oculto.

Minh’alma
Se desmancha,
Em relâmpagos,
Pirilampos,
Em templos
Profanos;
Que diluem,
Afagam,
Apagam,
Meu pranto;
Santo,
Sano,
Sôfrego.



Hamilton Guilherme

domingo, 23 de fevereiro de 2014

Galhos Secos



Meus ombros
São galhos
Que crescem
Sem pressa,
Meus ossos
São ramas
Que se deitam
Sobre a terra.

Minhas dores
São folhas
Que caem
No chão,
Minhas veias
Portam seiva;
Cada espinho
Tem paixão


O que dizer
Sobre galhos secos,
E aves que pousam
Nos meus braços?
Tudo em mim
Desconheço;
Trago aqui
Galhos fracos.

Hamilton Guilherme

segunda-feira, 17 de fevereiro de 2014

Frágil

É tão fácil
Ficar velho,
É tão difícil
Ficar esperto,
É tão fácil
Ser desonesto
Julgar o réu
Se achar certo.

É tão duro
Ficar excluso
Ser camuflado
Pelo mundo,
É tão ruim
Ficar seguro,
Viver em cima
Do muro.

É tão duro
Amar alguém
Que não te ama
De volta,
É tão ruim
Ser ignorado
Por cada um
A sua volta.


De que vale o tempo
Sem os ponteiros?
De que vale o último
Sem um primeiro?
Talvez você nunca
Consiga ver tudo;
Leis te fizeram
Cego,surdo,mudo.



Hamilton Guilherme

sexta-feira, 14 de fevereiro de 2014

Eu sou o Sol



Eis me aqui
Eu sou o sol
Filhos e filhas
Ao meu redor;
Crianças douradas
E de peles coradas
Sob o sabor
Do meu alvor.

Sob a minha
Coroa de ouro
Sereias entoam
Bela canção;
Ninfas de seda
Deitadas na areia
De pele morena
Veneram Hiperião.

Sou um menino
Correndo na rua
Eu sou o papagaio
Que voa em suas mãos;
Sou o doce aroma
Das frutas no sábado;
Sou a cor castanha
Nos olhos do aldeão.


São meus os campos
De cana-de-açúcar;
São meus os girassóis
E os meses de calor;
São minhas as pipas
Ao sabor do vento;
São meus os poemas
De cidade, tom e cor.


Virei pela manhã
Numa carruagem
Trazendo raios
Em meus cabelos;
Abençoando
Os povos da terra
Afugentando
Todos os medos.

Eu canto
A liberdade;
A brisa morna;
O amor livre;
A eloquência
Que inebria;
A inocência
Em mim reside.


Chamem-me
Guaraci
Sunna
Surya
Hemera
Hélio
Febo
Amon
Aton
Chamem-me
Como quiserem
Eis me aqui
Eu sou o sol

Hamilton Guilherme

terça-feira, 4 de fevereiro de 2014

Rumo

Estrelas veem
O que não vejo
Estradas corro
Sem saber;
Nunca fui
Nem serei
Só suponho
O que pareço ser

Vou deixar
Pelo caminho
Coisas antigas
Para perder;
Vou fugir
Sem sair daqui
Deixar a vida
Me escrever.

Nada entendo
Sobre velhice
Ou sobre coisas
Nos livros;
Ou a respeito
Dos outros;
Nada entendo
Sobre riscos

Quando fujo
Não sei pra onde
Terra natal
Vira horizonte


Hamilton Guilherme

domingo, 2 de fevereiro de 2014

Âmbar

Amo a alma tua
Cravada a minha
Amo cada verso
Do corpo teu;
Amo as ondas
Dos teus cabelos
És luar
Sou Morfeu.

Amo cada
Sorriso teu;
Amo os doces
Lábios teus
Quando tocam
Os meus;
No teu tapete
Me deitei;
És melodia
Sou Orfeu.

Teu coração
Sobre o meu;
Tua mão
Sobre a minha;
Sou a canção
No teu violão;
Meu desejo
Te confina.

Hamilton Guilherme

sábado, 1 de fevereiro de 2014

Remédio

Abre a alma
Deixa entrar;
Para ver
Tudo passar;
Guarde tudo
Ou jogue fora
Estou à espera
Do feriado;
Ninguém vai
Nos curar.

Esta adaga
Que fere
Meu peito;
Esta espada
Que corta
O silencio;
Cortam
Sem freio
Minha alma
Em leito.

Só os loucos
Vivem pouco;
Somos bobos
Num muro novo;
Cantando sempre
A mesma canção;
Cabeça aérea
Pés no chão.

Hamilton Guilherme