domingo, 30 de dezembro de 2012

Sol de verão



Sol de verão
Seus pensamentos
Já não são mais os mesmos
Estão presos
Por delírios vazios.

Seus amigos, não querem mais lhe ver.
Agora são viajantes solitários.
Trilhando em um mundo de ilusões
Onde toda a verdade é dilacerada
Em uma caixa, escondida e encruzilhada por espinhos.
E eu queria pular para teus olhos castanhos
Mas apenas respiro a cada sol de verão.

Eu sei que você nunca esteve aqui realmente
Sempre viveu em uma vida, do outro lado do mundo
Você sumiu, conforme o mar era engolido no horizonte
E as sombras parearam sobre minha cabeça
Sufocando-me em um labirinto de lembranças.

Um desespero infernal
O mago descendo as escadas
Para destruir as migalhas que restaram.

Alan Lacerda

sábado, 29 de dezembro de 2012

O Ilusionista











Iluda-se

Disse o ilusionista

Teus olhos brilham

como uma manhã de domingo

Não há muito o que aprender

Vivendo numa gaiola

Todo o teu sopro foi embora

e sobrou apenas o oco;

o vazio.





Iluda-se

Disse o ilusionista

Para que tempos nós fomos?

Somos dentes de leão numa montanha

Soprados para não voltar jamais

Para sermos meramente mortais

Para sermos uma mera barganha



Iluda-se

Disse o ilusionista

E que o frio o aqueça


Hamilton Guilherme

segunda-feira, 24 de dezembro de 2012

A espera do tempo




Espere pelo tempo
Ele nunca falhará em teu ser
Espere pelo tempo
E sua dor desaparecerá
Depois de uma longa noite
Quando os pássaros vão saindo
Se preparar para o amanhecer.

E andando pelos campos
Eu te vi em flores
E estava de cabeça baixa, sozinha.
E o que faz ai? Pule para as bordas
De plutão. Mas não escorregue.
Mas você está indo
Você se foi
Então falhou comigo, quebrou o juramento.

Espere pelo tempo
Como eu estive esperando o teu cair
E então seu corpo adormece
Seus olhos se fecham em um lugar
Profundo e escuro
O dia se faz brilhante
Mas você está parado
Como um brinquedo
Velho e desgastado
Como alguém que não faz falta
Como alguém que se foi
E por muitos anos
Nunca e ninguém pronunciará
O teu nome pelos movimentos cortantes
Você se foi, e então falhou comigo.
Espere pelo tempo que se renova
A cada instante, desgastante, sufocante.
E difícil de ser mastigado.


 Alan Lacerda


domingo, 16 de dezembro de 2012

A Canção Meio Amarga







Tudo bem se o sol não vier amanhã

Ou se ninguém puder voltar da guerra

Tudo bem se o açúcar estiver amargo

Ou se tudo for cinzas nesta terra



Todos os dias eu disseco a minha pele crua

Todos os dias eu devoro os meus pesadelos

Todos os dias eu procuro por um reflexo

É tão difícil reconhecê-lo



Apenas traga o dia de volta

Traga de volta os anos amargos

E o quase sabor angustiado

Das horas que passam

Num relógio parado



Tudo bem se ninguém vier amanhã

Ou se eu for culpado por algum defeito

Tudo bem se eu esquecer meus sonhos velhos

Ou se o dia seguinte não vier por inteiro


Hamilton Guilherme

quarta-feira, 12 de dezembro de 2012

Dezembro




Pássaros migram no solstício
No mês de dezembro
Quando sopra o cata-vento
Quando pousam os pardais
Em meu moinho vermelho

O despertador me chama
Através da cinza urbana
Sete degraus para o milésimo andar
Para o firmamento de uma alma plana

Tempo para novos sonhos
Aqueles que eu suponho
Aqueles que guardei no bolso
Os que me manteve em sono

Hamilton Guilherme

sábado, 8 de dezembro de 2012

K.W.



 

















Ouço o arpejar daquelas guitarras
E o dedilhar daquela citara
Cada vez mais suntuoso
O timbrar daquela música viva
O perfume do meu incenso
Cada vez mais sinuoso

Corações hidropônicos
Tocam sua canção visceral
Como uma sirene;
Estando dentro do útero mais uma vez
Submerso em águas acolhedoras
Monofonia perene

Hamilton Guilherme

sábado, 1 de dezembro de 2012

Revolução Púrpura








Eu caminhei sobre os ossos
E quebrei toda a mobília
Adagas cegas cortam o seu falso brilhante
Nos perdemos o toque
E os sapatos de granizo
Alfinetes despedaçam o caminho adiante

O herói está morto
E não queremos um outro
Somos pele e carne morta
Para um abutre canoro

Numa batalha por liberdade
Para quebrar todos os ismos
Cada soldado estava quebrado
Desde o início

Faixas coloridas, fora do ar
Em floração mútua, nos padecemos;
Balbuciando em minha narcose
Em cinzas vulcânicas
Em minha hera de amargo veneno

Hamilton Guilherme