domingo, 7 de abril de 2013

Manchas Vermelhas







I



“Eu carrego olhos fechados

E arcanjos pesados;

Com ombros quebrados”



Sangue pode ser doce como porcelana antiga, sangue pode ser veloz como cavalos num hipódromo,sangue pode ser agradável como uma fogueira em meio a neve exalando cheio de madeira viva queimando. Demônios gritam do lado de fora enquanto uma mente está latejando, é tempo de acordar a feiticeira do deserto. Pouco antes do nascer do sol,sob um céu nublado,descendo uma longa estrada,cansado de andar quilômetros,havia um estranho. Chamava-se Aramis Aramitz, vestia um capuz cinzento que cobria toda a sua cabeça,e escondia suas mãos nos bolsos da frente. Não carregava consigo muitos objetos,tinha um maço de cigarros e um isqueiro no bolso de trás,e uma bala de prata pendurada no pescoço,ele a usava como amuleto. Portava um olhar leve e sonolento,cabelos negros e um meio sorriso sarcástico em seu rosto. Os lobos uivavam pelas colinas, cobertas por uma neblina branca. De onde ele vinha,não se sabia,nada se sabia ao seu respeito,talvez ele ostentasse muitos segredos,segredos a serem ocultados.

  Aramis pedia carona para cada veículo que passava, mas nada conseguia, até que enfim um velho carro parou. O motorista do carro parou e logo convidou Aramis a entrar,chamava-se Alborno,como um viajante sem rumo,tinha cabelos ruivos e um pouco de barba,tinha um olhar espontâneo,como alguém que vive a vida como se houvesse nada além da estrada e do sol de pondo no horizonte.



- Você parece cansado,para onde está indo? Perguntou Alborno para Aramis,como cumprimento

- Estava indo para qualquer lugar,estava tentando me tornar invisível. Respondeu Aramis,com um olhar parado.



Em seguida,Aramis entrou no carro,e seguiu junto para a cidade local,onde Alborno mantinha uma banda,e eles iriam tocar numa casa noturna. Alborno acolheu Aramis em sua casa. Era um modesto casebre, um tanto bagunçado, ele morava com alguns amigos,que também eram integrantes da sua banda. Alborno lhe perguntou sobre de onde ele vinha, mas nada conseguiu,Aramis era como um oceano escuro. E então já fadigado de fazer perguntas sem ter respostas, Alborno convidou Aramis para ver a apresentação que aconteceria naquela noite. Constantino, um dos amigos de Alborno, não gosta da presença de Aramis, ele não lhe parecia muito confiável. Era um sujeito mesquinho e orgulhoso.



-Quem seria esse vermezinho que você trouxe pra cá? sabe-se lá de onde ele veio. Sussurro Constantino, sentindo desdém por Aramis.



- Sossegue,ele não fará mal a um mosca sequer. Retrucou Alborno,rapidamente.



Em seguida,todos se organizam e se preparam para a apresentação naquela noite presente,a lua estava cheia,não haviam muitas nuvens,o fluxo deve continuar.





II



“Noite de frias horas;

Traga-me de volta,depressa

Ao homicida que me apossa”



Então a noite veio,e com ela toda a sua atmosfera inebriante. Estava então Aramis, no meio de uma pequena multidão,prestigiando a banda de Alborno. Era um lugar um tanto apertado,iluminação extravagante,pessoas jovens,bonitas. Era envolvido pelo aroma de tabaco,formando uma leve bruma. Aramis fumava vagarosamente, os cigarros de menta que havia pego de Alborno,sem ele perceber. Ao fim da apresentação, A banda estava indo para uma festa na casa de Alborno, Constantino chama Aramis e o convida:



- Estamos indo para uma pequena festa,você vem ou não? Perguntou Constantino, olhando Aramis dos pés a cabeça. Ele não disse uma palavra sequer,apenas foi junto.



Haviam poucas pessoas na casa de Alborno,a música estava alta,pessoas jovens,selvagens,desvairadas. Algumas embriagadas, algumas entorpecidas, outras um tanto promiscuas. Estavam vivendo a loucura das suas vidas. Havia uma voz dentro de Aramis,uma voz ecoando em sua mente.



- Mate todos eles, mate todos eles... Era o que a voz lhe dizia.



Ao obedecer a voz,Aramis vai até a cozinha e pega a maior e mais afiada faca que encontra,e caminha sorrateiramente em busca de Constantino,ele estava fumando no quintal. Não gostava muito daquela agitação. Aramis foi caminhando,como um felino esguio. Constantino é surpreendido por ele,e novamente com desdém ele lhe fala:



- Afinal,o que você quer? O Alburno está lá dentro,vá falar com ele.



Então sem hesitar,Aramis saltou sobre ele e lhe deu muitos golpes com a faça,por todo o corpo.



- Quem é o vermezinho agora? Dizia Aramis rosnando enraivecido, enquanto assassinava Constantino.



- O primeiro caiu por terra, agora eu quero mais,eu preciso de mais.

Dizia a voz dentro de Aramis, ele estava com as roupas ensangüentadas, sua respiração estava pesada,ofegante. Em seguida,ele entra pela sala,coberto de sangue e assusta a todos. Rapidamente ele tranca as portas e rodeia aqueles que lá estão,com os olhos selvagens,e um sorriso amedrontador,como um predador prestes a atacar a sua presa.



- Este é o ultimo suspiro de vocês,me perdoem. Disse Aramis,antes de iniciar a matança.

Ele matou a todos,um a um,com suas próprias mãos,ele sentia o sabor da morte pelas suas próprias papilas gustativas. Em seguida ele bebeu do sangue de alguns que estavam ali mortos,era um demônio faminto por almas. Ele vestiu roupas limpas que eram de Alborno, dessa vez uma camisa xadrez vermelha,e após isto banhou toda a casa com liquido combustível,e ateou fogo. Foi embora, caminhando rua abaixo, como se nada tivesse acontecido.



III



“Fugindo sem rumo

parcial,taciturno

gaiola de meu próprio mundo”



Aramis foi vagando pelas cidades,de cidade em cidade,até caminhar pelos becos e fazer amizade com uma dupla de mulheres criminosas,Elas se chamavam Isabela e Anastácia,eram astutas e gananciosas. Logo integraram Aramis ao seu grupo,estava formada uma quadrilha.



- O garoto é um bobo,vamos fazer bom proveito dele. Murmurou Anastácia para Isabela.



- Nós iremos assaltar e deixe que ele assassine as vitimas. Respondeu Isabela, e ambas deram risadas, discretamente.



Isabel e Anastácia ensinaram a Aramis como manusear armas de fogo, e também alguns truques,algumas trapaças,coisas que os bandidos mais astutos tem conhecimento. Estavam dispostas a integrá-lo ao mundo do crime,ele estava aprendendo a atirar. E dessa forma,eles seguiram em frente,assaltavam casas de classe média e pequenas lojas. Cidade por cidade,eles eram considerados como procurados,a policia sabia os nomes de Isabela e Anastácia,os jornais se referiam a Aramis como individuo não identificado,ele parecia não deixar rastros. Até que um dia,durante o assalto a uma loja de conveniências,algo dá errado e a policia está lá fora,com armas apontadas.



- Saiam com as mãos ao alto. Exclamava a polícia do lado de fora



- Estamos cercadas, onde está Aramis? Exclamou Anastácia, desesperada.



- Aquele pequeno bastardo. Exclamou Isabela, frustrada.



Sem escolha ,as duas saíram com mãos ao alto e foram algemadas,Aramis tentou fugir pela porta dos fundos,mas foi surpreendido pela policia que logo o capturou. Parece que a sua curta estada no mundo do crime havia acabado. Sem muitas palavras,os recém-capturados entraram no carro da policia e foram levados para a delegacia,onde prestaram depoimentos a respeito do assalto a loja de conveniência. Eles haviam sido capturados pela sua própria armadilha,o destino.







IV



“Na lua de sangue

É onde eu tenho estado

Afinal,quem é o mestre?

Quem é o escravo?”



De acordo com as suas sentenças, Isabela e Anastácia foram enviadas para um presídio feminino. E Aramis, visto que ele era um psicopata,foi levado para um hospital de custodia. A voz em sua mente era a sua única companhia. Ele não quase via a luz do sol,usava camisa de força a maior parte do tempo e dormia preso por correntes. Não olhava ninguém nos olhos,vivia de cabeça baixa. Ele estranhamente, havia esquecido de toda a sua vida,não lembrava de mais nada,nada além do seu primeiro nome. Vivia com frio e se sentia como uma pessoa de noventa anos,seu comportamento havia mudado drasticamente,talvez fosse pelos fortes medicamentos que tomava varias vezes ao dia. Ao vir o enfermeiro,Aramis olhava para ele e perguntava vagarosamente:



- Quem sou eu? onde eu estou? para onde eu vou quando estou só?



- Você está desacordado, durma um pouco. Dizia o enfermeiro, meneando a cabeça.



A voz na sua cabeça ainda falava com ele,o perturbava,e ele conversava com ela,alguns enfermeiros ficavam assustados ao vê-lo falando sozinho,como se houvesse uma pessoa ao seu lado. Dessa forma,Aramis foi vivendo até ter um ataque cardíaco enquanto dormia,era o fim da sua trajetória . Nos corremos sem rumo, ao redor do mundo,onde alguns são vilões,outros são heróis,e outros são apenas hipócritas. Afinal,seria tudo isso fruto da imaginação de um lunático?







Hamilton Guilherme



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