sexta-feira, 25 de janeiro de 2013

Estrada de Todos os Santos









Descendo a estrada

De todos os santos

Desvio o destino

Que todos amamos

Incenso e pimenta

Por todos os cantos

Perdidos na estrada

De todos os santos



E o que se perdeu aqui

Jamais será encontrado

O que se enterrou aqui

É o teu único extrato



Descendo a estrada

De todos os santos

Onde se perderam

Os votos sagrados

Onde nada mais importa

Sonhos e pesadelos

Em um ferro velho

Degenerados



E o que se encontrou aqui

Jamais será procurado

Os fantasmas que repousam aqui

Esqueceram por passar o passado



E pela estrada

De todos os santos

Sopra a poeira

Dos desejos insanos

Dos anos perdidos

Sobraram charutos

Numa memória de madeira

Lentamente queimando


Hamilton Guilherme

terça-feira, 22 de janeiro de 2013

Aerograma









Eu vi o teu rosto

Por entre os passos do ultimo andar

Em qualquer lugar,eu não saberia

Onde abrigo procurar                 



Eu estive aqui

Andando por anos e anos

O que você vê é o que você é

Eu poderia ser um estalar de dedos

Por entre as luzes pardas da noite

Eu poderia ser um escaler



Eu vi o teu rosto

Por entre as rodas passando

Meus pulsos não mais funcionam

Eu deixei algumas vozes padecerem

Eu deixei algumas canções derreterem

Apenas feche a porta, quando sair



Você esteve aqui

Esperando por anos e anos

Por alguém que talvez tenha ido

Eu desci as estradas de emergência

Mas você estava apressado

Correndo depressa com armas cansadas

Talvez você mesmo tenha partido



Eu te procurei nas multidões

Eu te procurei entre os vagões

Mas você tinha coisa melhor a fazer

E não importa se somos ninguém

Não importa onde termina o além

Afinal você tem coisa melhor a fazer


Hamilton Guilherme

domingo, 20 de janeiro de 2013

Tempos Modernos







Quando passa o trem às seis

Do caos daqui,para o caos do além

O que você faz,o que você fez

Entre perdões e améns

o dia é mais desbotado aquém



E quem seriamos nós

Talvez uma sobra para outro falecer

E o que seriamos nós

Botões e nódulos deixados, por fazer



Quando vem a embriaguez

E eu quase volto a ter dezesseis

Eu inespero com avidez

Entre ladrões e injustos reis

O dia é mais enfastioso aquém



Você me deixou falando sozinho

Por entre o escuro das horas vagas

Como uma palavra que já foi dita

Alguém esqueceu a porta aberta



Eu desliguei os jardins

E os pássaros que ali cantavam

Sob as cinzas dos cemitérios

Eu passei pelos quartéis

E canções da Andaluzia

Sob o trafego das ruas

Onde os muros sussurravam



Eu estive parado aqui

Por entre a multidão e o caos urbano

Por entre o som dos trens passando

Eu suspirei suavemente

Como aquelas garotas em seus dezoitos

Como velhice aos dezenove

Eu estive parado aqui

Em meus sonhos

Como um fantasma na multidão

Por entre nuvens passando



Aqueles eram tempos modernos

Ah,aqueles tempos modernos


Hamilton Guilherme

quinta-feira, 17 de janeiro de 2013

Presídio de Espíritos





De volta, de novo,
A este mesmo local,
O meu fôlego degradou-se,
Como um fantasma frio;
Por entre as prisões do caos,
O meu monstro fechou-se.

E o meu mundo velho corrompeu-se,
A um lugar cheio de medo,
Ele caminhou em uma floresta negra,
Onde não há espinhos de dor,
Somente o teu olhar
Arrepiante de ceifador.

Eu mergulhei na noite negra,
Em busca de uma face,
Não há espíritos aqui;
Meus punhos,gastos por nada,
Não respire quando o falcão pousar,
Não há mais os muros que construí.

E aqui neste lugar,
Vou dormir novamente,
Junto aos cadáveres,
Que já não resistem mais ao tempo;
Estou só, como uma flor de verão,
Fui esquecido nos ponteiros do relógio,
Dei voltas, e estou no mesmo lugar de sempre.

Hamilton Guilherme e Alan Lacerda

quarta-feira, 16 de janeiro de 2013

Guerra Morna









Venha cedo

Ou será tarde demais

Enquanto for jovem

Ou será cedo demais



Guerra morna vem pela manhã

Como uma palavra que foi dita

Zero é o seu numero da sorte

É a sua voz que nunca foi ouvida



Venha Lento

Ou será rápido demais

Enquanto for velho

Ou estará jovem demais



Bela dorna vem pela manhã

Do horizonte que longe suspira

Eu olhava para o oeste

Para a minha erva daninha


Hamilton Guilherme

sexta-feira, 11 de janeiro de 2013

Nuvens de Tempo Nenhum





Eis Aqui o grande tempo

Ele flui solene

Por entre as cinzas no vento

Por entre luas atrás

Esquecidas para perder

Os velocinos de ouro

Os calendários desatentos



Ando pela estrada aberta

Como um pedaço de vento

Ah,como eu queria um oceano de oceanos

O fogo volta,de volta ao ano

Das nuvens de tempo nenhum

Da ilusão do meu colar elizabetano



Olhai os filhos de Hélio

Sob o céu de vultos negros

Eles irão cair tão depressa

como uma chuva quieta em janeiro



Fomos lacrados,outra vez

Em regeneração espiritual

Para morrer uma outra vez

Para viver numa outra tez

Em regeneração espiritual

Como veneno após a vida



Eis aqui o grande tempo

Ele vem amanhã cedo

Ele é um buraco negro na televisão

E não importa em que ano estivermos

Ele é um idoso neófito

Desfazendo o seu primeiro casulo

Desabrochando de um escuro, quase eterno


Hamilton Guilherme

terça-feira, 8 de janeiro de 2013

Labirinto de Faces






I



Ali vem aquele

Com a marca no rosto

Ele teme o fogo

E os olhos dos lobos, no escuro.



Ao passar da sua janela

Como uma procissão de velas

Seu olhar caminha distante

Distante da sua alma arbustiva

Distante das lentes a sua vista





Esperando na esquina

Com meio pote de má medicina

Ele diz: - O que queres de mim?

Eu destronei os cavalos do rei

Sobre a luz após o escuro,

Eu já nem sei.

Esperando na esquina

Cigarros de cetim





II



Jamais esquecerei das coisas

Aquelas que você nunca disse

Olhai todos a tua volta

À procura de respostas.

Jamais esquecerei

Das fraturas que nunca tive



E tudo parece desbotar

Até o crepúsculo tardio

Até o azulado frio

Antes de a noite chegar





 
Hamilton Guilherme

domingo, 6 de janeiro de 2013

Lobotomia









No labirinto da percussão

Vendo espelhos crescerem

Vendo fantasmas morrerem

Quem são eles,afinal?



E a liberdade é uma boneca de trapos

A vida um teatro de lunáticos

Todos aqueles heróis e presidentes

Eram todos farsantes, falsários



Então me desculpem

Meus amigos

É tão tarde para perdoar

E já não importa se o rei morreu

Não importa se fomos invadidos

É tão cedo para lamentar

Para capturar de novo o reino

Aquele que se perdeu


Hamilton Guilherme

sexta-feira, 4 de janeiro de 2013

Mais um, entre outros por aqui




Em um negro dia chuvoso
Portas de vidro são quebradas
A um longo caminho a percorrer
Entre seus pensamentos solitários
E o corvo que lhe chama.

São duas facas cravadas em tua pele
E você está sozinho
Ninguém para  te socorrer
Não a lugares para olhar
Só um deserto de lágrimas que saem
É apenas o Inferno lhe dando boas vindas.

E você segue adiante, como um parasita.
Querendo saquear mais um
E os buracos que saem na parede
É apenas loucura de tua cabeça
São seus reflexos de um longo dia
São apenas moscas atrás de ti.

E sua sombra fracassada no chão
Pede-lhe um copo de ajuda
Sua angustia por não saber
Para que lado andar
Torna-se o mais triste pensamento
Alma dilacerada pelo vento
Você é mais um entre outros por aqui.
É apenas o Inferno lhe dando boas vindas

Alan Lacerda

quarta-feira, 2 de janeiro de 2013

Escada Branca




Eu estava em plena luz astral
Naquele dia
Em que eu existia
Na escada que sempre caia
Do meu lado você aparecia

E um pouco de sua história você me contava
Delírios a parte, seus lábios se moviam.
De cabelos longos e castanho escuro
E eu apenas apreensivo ouvia
Sem sussurrar meus medos de volta

E cada vez era mais distante
Como sempre foi
Mas eu nunca me importei
E de tantas voltas no labirinto
Eu vejo que você encontrou ajuda
Vejo que você vai encontrar
Paredes pregadas no céu da sua boca
E tremulas, que correm rápido
Como sempre haverá de ser

Sem sinal de sua vida por este lado
E eu me refugo a mim mesmo
Esperando tudo um dia
Mas no final de tudo
Somos apenas cinzas
Aglomerações de tristeza
Que um dia partem para um lugar qualquer
Para que venham outras
Se juntar, junto com você e partilhar seus sonhos.

Alan  Lacerda.