Quero correr
Contra o destino
Quero mudar
De cidade e estado
Quero dizer
Palavras nulas
Fugir pra todos
Possíveis lados
Quero estar
Na minoria
Quero ir embora
E também ficar;
Quero asilo
Para a memória
Quero fortuna
Pra definhar
Quero monstros
Para criar
Quero ir
A lugar nenhum
Quero rir
E também chorar
Quero viver
Em lugar algum
Você sabe
Se voltar
Eu estarei
Bem aqui;
Você sabe
Após a dose
Eu não volto
A dormir
Hamilton Guilherme
Veja os gigantes
Em sua ruína
O leão e a caveira
Cruzaram os céus
Veja o cavaleiro
Cruzar a esquina
Veja os reinos
De aluguel
Vozes perdidas
Atravessam muros
Vozes alheias
Somem no escuro
Pessoas perdidas
Encontram o mundo
Sem esperar
Nem um segundo
Venho do norte;
Do calabouço;
Um estranho alado
Ajudou-me a sair;
Pela porta errada
Pela multidão;
Pela prisão violada
Nublada, a se abrir
Hamilton Guilherme
Quando vem;
Quando irá?
Quando irá pedir
Pra parar?
Tão distante
Do meu contento
Sou viajante
Parado no tempo
O que o ódio
Pode trazer?
O que palavras
Devem dizer?
Eu mal sei
Por onde começo;
O que fazer;
Quem devo ser
Viagem segura
Pra fora da página
Nós inventamos
Tudo isto;
Sou um completo
Destrutivo
Sou andante;
Clandestino
Hamilton Guilherme
Talvez possa
Olhar para cima
Voltarei pra casa
Em algum dia;
Memórias levam
A qualquer lugar
Ou a lugar algum;
Em qualquer lugar
Talvez possam
Aterrissar
Falando rouco
Ficando louco
Ao redor
Do bom fogo
Que se apaga
Pouco a pouco
A obra-prima
De volta ao esboço
Talvez possa
Ir para o sul
Onde falam
A mesma língua
Como cães
Numa matilha
Onde a infinita
Linha
Finda
Hamilton Guilherme
Jurei a morte
À vida eterna
Jurei ao éden
O purgatório
Jurei ao barco
O mar aberto
Jurei aos sóbrios
O sanatório
Jurei aos trilhos
O retorno
Jurei ao sereno
O transtorno
Jurei aos barões
Ouro dos tolos
Jurei que seria
Aberto a todos
Agora estou
Aqui ferido
Numa cama
De campanha
Relembrando
Vícios mortos
Culminando
Lembranças
Hamilton Guilherme