Olhai o zepelim,
Que atravessa,
A calada
Noite macia;
- Estrelas antigas
De azul viajado,
Cairão por aqui;
Alguém dizia.
Olhai aqueles,
Que correm
O universo,
E voltam a terra
Em forma de luz;
Nada mais,
Mais ninguém,
Só o destino
Que conduz.
Onde Órion
Se deita,
No mar frio
Deste barco aéreo;
Crianças correm
Pra vê-lo passar
Pelo céu escuro,
Este gigante etéreo
Veja a leveza
Que ele anseia,
Veja o mundo
Que ele deixa pra trás;
Atravessando,
Nosso tempo,
Que não volta
Jamais.
Talvez te veja
Em outra vida,
Talvez do lado
Escuro da lua;
Espero lembrar
Cada momento,
Que passei
Nesta rua.
Hamilton Guilherme
Não lembro
Onde estive
Não entendo
Porque fiquei;
Me tornei
Desconhecido
Não sei
Amar além
Eu vaguei
Durante anos
Eu cansei
Do meu dano
Mesmo assim
Vou andando
Mesmo passo
Caminhando
Porque
Ainda estou
Ruindo
Falindo
Caindo
Em trégua
Em quebra
Em queda
Livre
Hamilton Guilherme
Desde cedo
A remar
Tanto tempo
A navegar
Neste mar
Que não é meu
Desde longe
A naufragar
Neste terno
Flutuar
Sobre este
Sargaço ruivo
A terra firme
Não pertenço
Estou sempre
A deriva
Neste escuro
Barco à vela
Neste triste
Ancorar
Chegarei
Talvez hoje
Em ilha bela
Hamilton Guilherme
Madrugada,
Rarefeita
Perco os anos;
Quase caio
Um suspiro,
Meio alivio
Eu me perco
Em meu quarto
Meio dia
imperfeito
Vence o prazo
De pagamento
Meu defeito
É indireto
Eu me perco
Em meu caos
Noites em claro
Buscando respostas
Meio desligado
Por detrás das horas
Figuras bonitas
Pessoas bonitas
Loucuras finitas
Televisão
Eu quis ser
Cada um deles
Tentei viver
Do sim e do não
Hamilton Guilherme
Tão próximo
Ao ultimo piso
Como se nada
Fosse preciso;
Tão longe
Do chão inciso;
Em queda livre
Cair é impreciso
Tão fechado
Para sonhar
Tão aberto
Pra caminhar
Com botas pretas
Ou pés descalços;
Cancelar tudo;
Desanuviar
Tudo igual
Outra vez
Eu menti
Cada palavra;
Vem ver
Desventura;
O espírito
Sob a escada
Hamilton Guilherme
Vim aqui
Ver aqui
Estando aqui
Não volto mais
Volta e meia
Meia dose
Boa sorte
Pouca paz
As alegrias
De ver
A inocência
De viver;
A primavera
das dores;
E a dor
Dos amores
São nada mais
Do que cartas
Ao vento
Ao Sereno;
Relento
Hamilton Guilherme
Meus olhos
Buscam outros
Pra chamarem
De seus
Meus lábios
Buscam fogo
Para aquecer
Este sabor meu
Meu sussurro
Busca outro
Para falar
Segredos meus
Meu coração
Busca conforto
Para voar
Como Amadeus
E eu procuro
Um coração
De leão
Para domar
O meu;
Para reinar
Sobre o meu;
Para bater
Junto ao meu
Hamilton Guilherme
Quero correr
Contra o destino
Quero mudar
De cidade e estado
Quero dizer
Palavras nulas
Fugir pra todos
Possíveis lados
Quero estar
Na minoria
Quero ir embora
E também ficar;
Quero asilo
Para a memória
Quero fortuna
Pra definhar
Quero monstros
Para criar
Quero ir
A lugar nenhum
Quero rir
E também chorar
Quero viver
Em lugar algum
Você sabe
Se voltar
Eu estarei
Bem aqui;
Você sabe
Após a dose
Eu não volto
A dormir
Hamilton Guilherme
Veja os gigantes
Em sua ruína
O leão e a caveira
Cruzaram os céus
Veja o cavaleiro
Cruzar a esquina
Veja os reinos
De aluguel
Vozes perdidas
Atravessam muros
Vozes alheias
Somem no escuro
Pessoas perdidas
Encontram o mundo
Sem esperar
Nem um segundo
Venho do norte;
Do calabouço;
Um estranho alado
Ajudou-me a sair;
Pela porta errada
Pela multidão;
Pela prisão violada
Nublada, a se abrir
Hamilton Guilherme
Quando vem;
Quando irá?
Quando irá pedir
Pra parar?
Tão distante
Do meu contento
Sou viajante
Parado no tempo
O que o ódio
Pode trazer?
O que palavras
Devem dizer?
Eu mal sei
Por onde começo;
O que fazer;
Quem devo ser
Viagem segura
Pra fora da página
Nós inventamos
Tudo isto;
Sou um completo
Destrutivo
Sou andante;
Clandestino
Hamilton Guilherme
Talvez possa
Olhar para cima
Voltarei pra casa
Em algum dia;
Memórias levam
A qualquer lugar
Ou a lugar algum;
Em qualquer lugar
Talvez possam
Aterrissar
Falando rouco
Ficando louco
Ao redor
Do bom fogo
Que se apaga
Pouco a pouco
A obra-prima
De volta ao esboço
Talvez possa
Ir para o sul
Onde falam
A mesma língua
Como cães
Numa matilha
Onde a infinita
Linha
Finda
Hamilton Guilherme
Jurei a morte
À vida eterna
Jurei ao éden
O purgatório
Jurei ao barco
O mar aberto
Jurei aos sóbrios
O sanatório
Jurei aos trilhos
O retorno
Jurei ao sereno
O transtorno
Jurei aos barões
Ouro dos tolos
Jurei que seria
Aberto a todos
Agora estou
Aqui ferido
Numa cama
De campanha
Relembrando
Vícios mortos
Culminando
Lembranças
Hamilton Guilherme
Caía a inconstante
Chuva de setembro
Alguns correm
Outros se molham
Uns preferem
O relento
Caía a suave
Chuva em setembro
Molhando vividos
Versos ao vento;
Ainda observo
Luz preguiçosa
Fantasmas famintos
Que acalento
Eu preciso
Virar borralho
Eu quero
Estar em farrapos
Eu, impreciso;
Olho para o escuro
Para me sentir bem
Para me sentir
Ninguém
Hamilton Guilherme
Leve-me desta rua
Num barco para a lua
Para em seus mares
Navegar;
Eis o último
Dia na terra
Que a gravidade
Pôde vetar
Leve-me desta rua
Para a orla da lua
Onde descansa
O rei oceano;
Onde vivem
Os reis ciganos;
Onde não somos
Só estranhos
Seriam os deuses
Astronautas
Afogados no mar
Da serenidade?
Seria o destino
O zero absoluto
Entregue ao mar
Da tranquilidade?
Leve-me desta rua
Pro outro lado da lua
Já não quero mais
O lago da solitude
Vim do perpétuo
Mar de vapores
Do lago do Oblivio
Fria quietude
Desta nova
Estrela menor
Até a velha
Lebre maior
Siga a rota
Leve-me
Hamilton Guilherme